minha experiência com cronogramas anuais

Eu amo a Bíblia. Quando tive meu encontro com Jesus, passei a devorá-la — era uma paixão, uma sede de aprendizado que eu nunca havia experimentado antes. Era algo leve e transformador. Percebia diariamente o confronto, a cura e o consolo vindo da oração e da leitura da Palavra.

Com o tempo, comecei a conduzir grupos de leitura anual da Bíblia. Algumas pessoas participaram, e recebi feedbacks positivos enquanto outros desistiam no meio do caminho. Mas, dentro de mim, algo tinha mudado: o prazer havia sumido.

Quando a leitura virou um fardo

Havia dias em que eu queria ler apenas um capítulo, com calma, refletindo. Em outros, desejava mergulhar numa carta inteira, do início ao fim. Mas o cronograma não permitia isso. Era como se eu estivesse encaixotando minha comunhão com Deus para caber numa planilha.

Esses planos já não me supriam. E, aos poucos, comecei a perceber que o problema era mais profundo.

O orgulho disfarçado de disciplina

Então parei para refletir: o que essas leituras anuais estavam realmente produzindo em mim?

Orgulho e soberba.

Mesmo que secretamente — para mim, porque para Deus nada está oculto —, eu me achava superior aos cristãos que nunca tinham lido a Bíblia toda. Me orgulhava da minha “conquista espiritual”. Ler a Bíblia tinha deixado de ser um prazer. Estava se tornando uma tarefa. Um ritual.

O amor tinha sumido. Eu apenas batia metas.

Quando a ficha caiu

A compreensão não veio de imediato. Mas, quando percebi que o prazer de ler a Bíblia tinha desaparecido, corri aos pés do Senhor. Fui buscar respostas.

E a verdade me confrontou: eu estava retornando para a religiosidade.

Estar com Deus, orar, ler a Palavra — tudo aquilo que antes era meu momento mais íntimo e prazeroso, tinha virado checklist. Uma rotina mecânica de metas espirituais para alcançar algo que já era meu: a graça.

As primeiras obras

Gosto muito de lembrar em como era no início. Quando conheci Jesus e tive um encontro com seu amor, não havia cobrança. Não havia pressão de grupo. Não havia performance.

Era só eu e Deus no cantinho do sofá.

O tempo de oração era prazeroso. A leitura bíblica, um mergulho no coração de Deus — não porque eu precisava cumprir disciplinas espirituais (até porque, naquela época, eu nem sabia o que isso significava), mas porque eu simplesmente queria conhecê-Lo.

Mas eu tinha me distanciado. Me envolvi em metas, performance, pressão. E Deus, em sua infinita bondade e amor, começou a sussurrar ao meu coração:

“Volte ao primeiro amor. Lembra-te de onde caíste e volta à prática das primeiras obras.” (Apocalipse 2:5)

Quando o amor sai, tudo pesa

Quando fazemos algo sem amor, tudo vira peso. Foi assim com a leitura da Bíblia. Foi assim com a oração.

Me entristece perceber o tempo que perdi tentando bater metas e seguindo cronogramas, quando Ele só queria meu coração. Mas me alegro por uma verdade inegociável: Deus não desiste de mim.

Hoje, percebo que a luta contra a religiosidade é ainda maior do que a luta contra o pecado. Porque ela é mais sutil. Mais disfarçada. Mais aceitável. Mas é tão destrutiva quanto.

E eu não quero mais me afastar daquele cantinho no sofá, onde tudo começou.

E quanto a você?

Sua vida com Deus tem se tornado uma lista de tarefas a cumprir ou ainda é um prazer?

Sabemos — ao menos no nosso consciente — que não compramos o amor de Deus. Sabemos, de tanto ouvirmos, que tudo é pela graça. Que é somente por causa da morte e ressurreição de Jesus.

Mas será que nossas atitudes dizem o mesmo?

[…] o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu

Isaías 29:13

Observação final

Eu não sou contra cronogramas de leitura bíblica. A primeira vez que segui um, ele me ajudou a manter a constância e, de fato, ler a bíblia do início ao fim, sem pular os “livros chatos”.

Minha crítica é sobre quando esse tipo de plano se torna apenas mais uma tarefa. Lemos os capítulos do dia e pronto, estamos “livres”. Já não é mais por amor a Deus, nem para conhecê-Lo melhor, mas só para marcar um “ok” na lista.

Assim como eu precisei sondar meu coração, aconselho que você faça o mesmo. E, se for necessário, lembra-te de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras.

Artigos recomendados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *